terça-feira, 20 de maio de 2008

Saudade e Felipe

Os pequenos sinos dançaram acima da porta, da lojinha de doces, quando ela fora aberta. Um menino não muito magro se assustara com a carinhosa senhora que sorria, e não entendeu o por quê dela falar com ele.
-Olá. Me chamo Saudade - disse a senhora de bégie sentada à cadeira.
-Boa tarde, me chamo Felipe - disse o menino.
A moça de cabelos brancos fitou Felipe nos olhos, sem parar de sorrir.
-Não se sinta mal por deixar o passado para traz, disse ela.
Sem entender, o menino tirou um doce do pacotinho e colocou-o na boca. Saudade, agora havia desviado o olhar e observava uma folha seca caindo de uma bela árvore outonal.
-Desculpe, mas não compreendo - disse Felipe ao terminar de comer o doce.
-Não precisa realmente entender, apenas escute: é preciso fazer alguns sacrifícios, deixar algumas coisas para traz. Porém, é necessário lembrar-se daquilo que ainda valhe a pena - continuou Saudade voltando a olhá-lo.
Felipe tentou entender a pequena "lição de moral" e perebeu que aquilo era designado, especialmente, a ele. Sentando-se no chão, Felipe escutava cada palavra da senhora com muita atenção.
-O que quero dizer - continuou ela - é que conheço sua vida. Não se espante, mas sei o que aconteceu nos dois verões do ano passado, e compreendo a falta que sente da sua "família".
-Como sabe?
Saudade não respondeu.
O menino mudou seu olhar. Agora observava os doces, e sentiu uma pontada de sentimento no seu peito. Nostalgia era o nome apropriado, por enquanto.
Os três pequenos chicletes parados no pacote de doces transformaram-se em três rostos felizes. O sentimento mudara. Ao perceber, Felipe entendeu. Voltou a olhar a senhora sentada a cadeira.

Saudade sorria, agora.

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