quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Fim do Mal a Pior

O primeiro post desse blog falava sobre meu primeiro dia de aula. "De Mal a Pior" é o título e acho que hoje, no útimo dia de aula, eu posso conclui-lo corretamente.

O começo foi difícil. Muito difícil, pra ser sincero. Quase trinta dias onde eu me sentia deslocado socialmente. Não falava com ninguém, ninguém falava comigo, eu simplesmete criei um mundo dentro de mim, onde eu inventava tudo e restringia qualquer um que tentava entrar. Até imaginava que as pessoas agiam como eu agia pelo mesmo motivo, talvez elas não vinham falar comigo porque eu não ia falar com elas, ou vice-versa.

Mas o tempo passou, e para a minha felicidade, a época do menino novo, também. Uma pessoa ou outra veio conversar. Assuntos aleatórios, perguntavam sobre como é ter aula com a própria mãe, qual escola eu acabara de sair, se eu estava gostando da escola nova e pronto, minha lista de amigos foi crescendo. Fatos que nunca ocorreram na minha vida começaram a vir a tona, e pra falar a verdade, não foi algo tão ruim. Uma fuga da escola, um dente e um pé quebrado, primeiras recuperações, festa surpresa e minha primeira banda. Você pode estar pensando ser coisas pequenas e até irrelevantes, mas não pra mim.

Hoje, o último dia de aula, eu só digo uma palavra a toda a turma da segunda terceira: Obrigado. Eu nunca me esquecerei de pessoas como vocês, e com certeza estarei a disposição se algum dia precisarem de mim.

Sincera e literalmente, vocês mudaram minha vida.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Aleatórias4

Gire a caneta BIC entre os dedos. Como se fosse uma baqueta, passe do dedo mindinho para o médio, logo em seguida ao anelar, indicador e enfim termine segurando-a com o polegar. É bom para distrair. Pelo menos é o que Manoel fazia enquanto encarava o poster de uma banda norte-americana, colada atrás da porta do quarto.
O computador ligado, parecia desligado e inútil no momento. A imagem do plano de fundo insistia em ficar por tras de uma página da web, mas nem o teclado era tocado.
A caneta enfim pulara da mão do meinino e caira no chão. Manoel ficou observando-a por alguns instantes, até finalmente desistir. Imagine, se estava tediante para mim, que olhava a cena de um bom ângulo, imagine para o menino, que acomodava-se desageitado em cima de uma cadeira giratória!
Então, súbitamente sua mão direita foi até o mouse e a seta no computador começou a dançar inutil e irritantemente. Mas foi por apenas um momento, afinal, ele resolveu parar de gastar luz elétrica e enfim desligou o aparelho.
Girou 180° com a cadeira e levantou-se em um salto. Os livros desarrumados na pratelheira esbranquiçada o convidava a apanhar um deles e mergulhar no mundo da literatura, mas não, aquele momento não era próprio para um boa leitura.
Foi quando Manoel olhou esguio para a escrivaninha, e lá estava, o objeto retangular acompanhado de um fio que se dividia em dois, dando lugar a um par de fones: o iPod. Acho que ele se esqueceu que ganhara um desses de aniversário, e finalmente, o tédio passou quando nas duas orelhas um som alto de mais fazia o quarto do menino ficar mais agitado.

sábado, 4 de outubro de 2008

Mente Insana

A paisagem era repleta de cores. O azul marinho do oceano culminava com um céu vazio e claro e árvores muito verdes balançavam docemente com o leve soprar do vento enquanto pássaros amarelados brilhavam com a luz do sol alaranjado. Seria uma bela imagem se, para mim, tudo aquilo não fosse preto e branco.

Minha história começa com meus cinco anos de idade, o primeiro dia de aula. Em toda a criança, é claro, ainda havia um vínculo em fazer amizade com pessoas que nunca vira na vida e imagino que é preferível o esforço para tentar falar com os colegas a ficar sozinho e isolado em um mundo infantil. Geralmente, as pessoas preferem a primeira opção, e é claro que se eu pudesse, optaria por essa, mas infelizmente não pude fazer uma escolha.

As crianças estavam muito agitadas, correndo de um lado ao outro na inútil tentativa de pegar o amigo mais rápido. Sempre achei uma estupidez correr sem motivo atrás das pessoas, mas aceitaria, sem rodeios, entrar na brincadeira se alguém me convidasse.

A minha diversão naquele primeiro recreio era observar silenciosamente a diversão. Sentado em um banco afastado de todos, eu analisava os meus colegas de turma sorrirem e gritarem enquanto corriam. A única coisa que fazia, era balançar meus pés pendularmente, sentindo os cadarços do tênis roçarem o chão, enquanto os dedos da minha mão se mexiam involuntários e irritantemente na ilusão de deixar aquele “recreio” menos monótono.

As pessoas me rejeitaram. No meu primeiro dia de aula.

A imagem colorida reentrou em foco. Quase esqueci que estava sentado em um penhasco. Não havia ninguém por perto, mas isso não era novidade. Acostumei-me com a solidão há muito tempo. Inventava minhas próprias brincadeiras, inventei um mundo só meu. Aprendi a me divertir comigo mesmo.

Os anos se passaram desde o primeiro dia de aula. Me encontrava na sétima série, com treze anos repletos de momentos que desejava esquecer. “O estranho Pedro ainda não parou de falar sozinho” cochichavam os adolescentes, sem se importarem se Pedro ouvia ou não os comentários. Eu poderia matar todos eles. Uma chacina em plena luz do dia, um episódio que mancharia a reputação da escola, inclusive da cidade. Mas não, não levaria a nada tirar a vida daqueles robôs controlados pela moda, máquinas movidas pela alienação.

Ninguém também sentiria falta do “esquisito Pedro” se ele acidentalmente escorregasse do Penhasco do Olho Cego, o incrível ponto de encontro dos casais apaixonados. Eu, inclusive, nunca tive o prazer de penetrar em uma daquelas vadias da escola no famoso lugar público da cidade. Era estranho que ninguém estivesse lá.

Talvez as pessoas estivessem se escondendo atrás das árvores, observando os últimos minutos de vida do “menino-que-não-sabia-de-nada”.

(Créditos para Lara!)

Particularidades de Uma Vida Literária

A biblioteca descansava silenciosa na esquina agitada de uma cidade sul-americana. Seu exterior, já desfigurado devido ao tempo, colocava a mostra algumas marcas do vandalismo urbano, e parecia querer convidar a população a dar uma olhada nos seus milhares de livros centenários. As janelas de vidro fosco estavam bem cuidadas, inclusive pareciam ter sido trocadas recentemente. Algumas delas mostravam figuras embaraçadas de prateleiras antigas e monótonas, que tinham um gosto único e peculiar pela literatura. Uma bela rampa em forma de V levava os visitantes ao portão de entrada, que nos convidava a dar uma espiada nos três andares repletos de cultura.

Seu interior era tão desfragmentado, fisicamente, quanto seu exterior, mas algo muito bem conservado parecia estar guardado em cada livro de cada estante daquela enorme construção. Eles estavam à esquerda, à direita, em frente, à cima. Vários tipos de salas estavam espalhados pelo cômodo, e por mais que a aparência de todas ali fosse muito parecida, elas eram diferentes nos detalhes mais mínimos e necessários possíveis. Colunas de níquel avermelhadas margeavam e dividiam cada prateleira de seu assunto. Uma escada metálica nos conduzia a um andar dedicado à leitura e ao silêncio, quebrado apenas pelo folhear de páginas e pelo ranger de passos no piso revestido em madeira.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Aleatória3

Eram quatro janelas alinhadas. Uma senhora usando óculos grandes e uma rede vermelha sobre o cabelo, pregava algumas roupas no varal enquanto a menina da janela ao lado falava ao telefone e arrumava o cabelo ao mesmo tempo. Alguns minutos se passaram, e a menina moveu os lábios e contraiu a garganta, parecia chamar sua avó, talvez. A senhora parou de pregar as roupas e desapareceu pela sua janela, mas reapareceu logo em seguida na janela da menina, que agora murmurava alguma coisa sobre seu vestido. A senhora recuou e mediu sua neta com os olhos, fazendo um sinal de positivo com a cabeça e voltando à sua rotineira vida de "pregadora de roupas".


Depoimento de ''O Visinho do Quinto Andar''

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Aleatórias2

A lâmpada trêmula no poste não chamava a atenção dos carros que passavam. Era quase um pôr do sol, momento onde a luz dos faróis é fraca de mais se acesa, mas a claridade não é forte o suficiente para se enxergar. Mulheres caminham segurando a alça de suas bolsas presas ao ombro, fazendo o barulho de seus passos ecoar por entre a avenida. Enquanto isso, a maioria dos homens anda apressada olhando vez ou outra para o relógio de pulso.
Uma adolescente atravessa a rua correndo, sem a devida atenção, passando ao lado de uma senhora idosa, que espera pacientemente o semáforo trocar do verde para o vermelho.
O ônibus bi articulado passa em alta velocidade, quase furando o sinal, e leva alguns pedaços de papel embora.
Uma buzina de carro me desperta, lembrando-me que devo voltar para casa.

domingo, 22 de junho de 2008

Aleatórias1

John passou no fast food apenas para apanhar um cheeseburger, mas algo a mais aconteceu.
- Um cheeseburger, por favor.
- Apenas o cheeseburger, senhor? Não gostaria de algo para beber?
- Ah, claro. Uma Coca-Cola também.
- Ok. R$ 4, 50.
John entrega uma nota de dez reais e aguarda o troco.
- Teria uma moeda de cinqënta centavos? - pergunta o atendente.
- Um minuto - disse John. Abriu a carteira e sacou a única moeda - aqui está.
Após receber o troco, teve que esperar alguns minutos para o lanche ser entregue, afinal era feriado e muitas pessoas resolveram parar para comer um Burger-King.
- Cheeseburger com Coca média?
- É, acho que é o meu. Obrigado - respondeu pegando a bandeja.
John ja havia visto uma mesa vazia, mas esta fora ocupada por um homem, vestido com uma camiseta de time, acompanhado de outros dois homems e uma menininha loira. Porém, a mesa atras a deles estava vaga. Sendo assim, foi até lá.
Sentando-se, um adolescente apareceu e apoiou uma mochila de mão. Abriu-a e retirou uma agenda e uma caneta.
- Só um minuto, só quero um autógrafo - disse o menino.
John achou que era algum tipo de piada, mordeu o seu sanduiche e o engoliu.
- Ah, está bem então - disse John orgulhoso.
O homem estava pegando a agenda e a caneta, quando o menino, sem entender, perguntou:
- Desculpe senhor, mas o que está fazendo?
- Você não me pediu um altógrafo? - disse John estranhando mais ainda.
- Não, estava apenas pegando minha agenda e minha caneta para ele autografar - respondeu o menino apontando para o cara, na mesa da frente, vestido com a camisa de time - ele é jogador de futebol.
- Ah, desculpe, achei que... Bem, me desculpe - corou.
- Sem problemas, obrigado -disse o garoto recolhendo seu material e se dirigindo a cadeira da frente.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Saudade e Felipe

Os pequenos sinos dançaram acima da porta, da lojinha de doces, quando ela fora aberta. Um menino não muito magro se assustara com a carinhosa senhora que sorria, e não entendeu o por quê dela falar com ele.
-Olá. Me chamo Saudade - disse a senhora de bégie sentada à cadeira.
-Boa tarde, me chamo Felipe - disse o menino.
A moça de cabelos brancos fitou Felipe nos olhos, sem parar de sorrir.
-Não se sinta mal por deixar o passado para traz, disse ela.
Sem entender, o menino tirou um doce do pacotinho e colocou-o na boca. Saudade, agora havia desviado o olhar e observava uma folha seca caindo de uma bela árvore outonal.
-Desculpe, mas não compreendo - disse Felipe ao terminar de comer o doce.
-Não precisa realmente entender, apenas escute: é preciso fazer alguns sacrifícios, deixar algumas coisas para traz. Porém, é necessário lembrar-se daquilo que ainda valhe a pena - continuou Saudade voltando a olhá-lo.
Felipe tentou entender a pequena "lição de moral" e perebeu que aquilo era designado, especialmente, a ele. Sentando-se no chão, Felipe escutava cada palavra da senhora com muita atenção.
-O que quero dizer - continuou ela - é que conheço sua vida. Não se espante, mas sei o que aconteceu nos dois verões do ano passado, e compreendo a falta que sente da sua "família".
-Como sabe?
Saudade não respondeu.
O menino mudou seu olhar. Agora observava os doces, e sentiu uma pontada de sentimento no seu peito. Nostalgia era o nome apropriado, por enquanto.
Os três pequenos chicletes parados no pacote de doces transformaram-se em três rostos felizes. O sentimento mudara. Ao perceber, Felipe entendeu. Voltou a olhar a senhora sentada a cadeira.

Saudade sorria, agora.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

De mal a pior

Cada um tem seu ponto de vista quando o assunto é o primeiro dia de aula. Os revoltados pensam tudo ser alegre de mais, os nativistas chegam atrasados e não entendem o motivo da professora tê-los deixado entrar em sala de aula. As patis só estão afim de mostrar a nova escova definitiva, as unhas vermelhas e os cadernos aveludados em rosa pink. Temos os viciados em esportes e também o meu ponto de vista.
Na verdade, ficou diferente esse ano. Escola nova, uniforme novo e pessoas novas. Já estava acostumado com o alvoroço da escola antiga, as pessoas estrapolando na boiolagem de sempre, a matação de saudaes e aquilo de "ela engordou mesmo". Mas como as coisas mudaram, minha idéia de primeiro dia de aula nao é mais a mesma, pelo menos esse ano.
Só o fato de chegar na escola não foi o dos melhores. Primeiro eu não sabia o número da minha turma, não conhecia ninguém para conversar, falar mal, como foram as férias e tudo aquilo, e tirando o fato de que minha mãe seria minha professora, a coisas até que se sairam bem.
Ao entrar na sala de aula, as coisas passaram de ruins para algo pior. De início achei que ia ser invisível, ninguém olharia para mim e eu não olharia pra ninguém. Mas, infelizmente, estava errado. Era como se estivesse andando pelado no meio da classe. Parecia que havia feito alguma coisa errada. Por que estavam me olhando? Bem, fiz como se não estivesse prestando atenção, me isolei numa carteira no fundão, ouvi música até o professor entrar. E realmente até o professor entrar, porque a primeira bronca do ano foi exatamente para mim, por "estar ouvindo música fora de hora".
Quando pensava que nada mais iria piorar, estava errado, de novo. O querido professor que sem me conhecer me olhava com aqueles olhos de se-abrir-a-boca-te-tiro-de-sala, perguntou quem era novo na turma. Sim, eu fui o único que levantou a mão, e sim, as pessoas cochicharam umas com as outras enquanto eu ficava vermelho e via o professor me olhar com uma cara de acabou-de-se-ferrar.
Tudo bem, que depois disso não aconteceu mais nada mesmo, mas temos o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto dia de aula para falarmos.
Não que tudo tenha sido horrivel como o Primeiro Dia, exceto o segundo, que foi pior que o primeiro. Mas depois fiz alguns amigos e tudo já passou de -50 para 0. É alguma coisa não?