sábado, 4 de outubro de 2008

Mente Insana

A paisagem era repleta de cores. O azul marinho do oceano culminava com um céu vazio e claro e árvores muito verdes balançavam docemente com o leve soprar do vento enquanto pássaros amarelados brilhavam com a luz do sol alaranjado. Seria uma bela imagem se, para mim, tudo aquilo não fosse preto e branco.

Minha história começa com meus cinco anos de idade, o primeiro dia de aula. Em toda a criança, é claro, ainda havia um vínculo em fazer amizade com pessoas que nunca vira na vida e imagino que é preferível o esforço para tentar falar com os colegas a ficar sozinho e isolado em um mundo infantil. Geralmente, as pessoas preferem a primeira opção, e é claro que se eu pudesse, optaria por essa, mas infelizmente não pude fazer uma escolha.

As crianças estavam muito agitadas, correndo de um lado ao outro na inútil tentativa de pegar o amigo mais rápido. Sempre achei uma estupidez correr sem motivo atrás das pessoas, mas aceitaria, sem rodeios, entrar na brincadeira se alguém me convidasse.

A minha diversão naquele primeiro recreio era observar silenciosamente a diversão. Sentado em um banco afastado de todos, eu analisava os meus colegas de turma sorrirem e gritarem enquanto corriam. A única coisa que fazia, era balançar meus pés pendularmente, sentindo os cadarços do tênis roçarem o chão, enquanto os dedos da minha mão se mexiam involuntários e irritantemente na ilusão de deixar aquele “recreio” menos monótono.

As pessoas me rejeitaram. No meu primeiro dia de aula.

A imagem colorida reentrou em foco. Quase esqueci que estava sentado em um penhasco. Não havia ninguém por perto, mas isso não era novidade. Acostumei-me com a solidão há muito tempo. Inventava minhas próprias brincadeiras, inventei um mundo só meu. Aprendi a me divertir comigo mesmo.

Os anos se passaram desde o primeiro dia de aula. Me encontrava na sétima série, com treze anos repletos de momentos que desejava esquecer. “O estranho Pedro ainda não parou de falar sozinho” cochichavam os adolescentes, sem se importarem se Pedro ouvia ou não os comentários. Eu poderia matar todos eles. Uma chacina em plena luz do dia, um episódio que mancharia a reputação da escola, inclusive da cidade. Mas não, não levaria a nada tirar a vida daqueles robôs controlados pela moda, máquinas movidas pela alienação.

Ninguém também sentiria falta do “esquisito Pedro” se ele acidentalmente escorregasse do Penhasco do Olho Cego, o incrível ponto de encontro dos casais apaixonados. Eu, inclusive, nunca tive o prazer de penetrar em uma daquelas vadias da escola no famoso lugar público da cidade. Era estranho que ninguém estivesse lá.

Talvez as pessoas estivessem se escondendo atrás das árvores, observando os últimos minutos de vida do “menino-que-não-sabia-de-nada”.

(Créditos para Lara!)

2 comentários:

Unknown disse...

É, ficou foda, menino-que-quase-não-sabia-de-nada :)

Unknown disse...

minha idéia!
que plágio mais descarado.